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Deu pane no sistema
A ordem está pelo avesso
E o avesso está na moda
Rasgado, desbotado…
Em frente!
Soldados desvestidos
Desfardados!!!!
Por que o fardo somos nós
Os que foram seus mestres
Mestres dos seus filhos
E agora, o que será?!
Mostre com suas armas
A voz do seu amor!
Zombem, escarneçam!!!
Lancem essa fumaça que arde os olhos
Que faz chorar o coração!
Ensine seu filho o terror!!!
O que já não tem mais valor…
Vamos, soldados!!!
Em frente
Marche… marche… marche…
Indiferente
Isso não é com você
Não pensa
Não sente
Nem vê
Acorda, mano!
Sua idade não é justificativa para ignorar a solução.
Olha a cidade em guerra!
Quantas flores você vai deixar morrer?
Estão acabando com os nossos jardins…
As ervas daninhas tomam conta
E você aí parado não se toca!
Você que traz nas mãos novas sementes
Que é o dono de tudo que vem pela frente
A hora é agora
Levanta daí
E vamos!!
Não há mais o que perder…
Temos que recuperar
A terra A dignidade
O direito de andar, o direito de amar
Se você pensa, mano
Que tanto faz…
Sinto muito
Falei, mas não falo mais…
Zumbis... Silêncio!
Eles estão chegando…
Há barulho por toda a parte
Cães selvagens comendo gente
Existe medo nos olhos
E dor no coração
Pessoas mortas se levantam
Zumbis do silêncio
Buscam devorar mais gente, mais mentes…
Quem percebe corre
Quem enfrenta morre
E se levanta
E segue em frente
É o recomeço do caos!
O fim que se esperava
O nada mergulhado no absurdo
Dos cães comendo gente.
A Alma
A poesia perdeu o encanto
As letras não buscam as palavras
E a imaginação não passeia mais
Pelos trilhos versificados
Que conduziam a minha alma.
Ela está perplexa diante de mim
A me olhar
Sem cor
Sem dor
Sem amor…
A minha voz se calou
Os pensamentos desconexos
Engarrafam o tráfego
Será que a vida acabou?
O vento que te conduzia
Já não dá forças para tuas asas.
Oh, poesia!
Quero agora falar de ti
Da tua ausência em mim
Do tempo e da solidão
Mas dizer mais o quê
Se tudo que já foi dito
Saiu do coração.
A partida
No vazio um barulho
Um eco infinito dentro do ego
solidão pior que a escuridão
e a alma se foi conformada.
Pobre alma!
que quando aqui chegou
veio trazendo uma mala de esperanças
chegou perfumada…
toda cheirosa!
era um botão de rosa…
talvez sem consciência deixou-se partir
fim da dor
a dor deixa de ser dor…
Eu me calo
Me calo diante das barreiras
que vão silenciar o eco de minha voz.
Mas meus pensamentos ecoam
numa eternidade sem barreiras
A semente boa jogada em terreno fértil
não apodrece
Muitas vezes demora brotar,
a florir e a dar frutos
mas jamais podemos dizer
antes mesmo dela nascer
que ela não existe.
A semente existe e foi plantada!
Tem nome, objetivo definido
houve até cerimônia de implantação…
Agora é dar tempo ao tempo…
É confiar… Esta feito!
Passou…
Nós nos perdemos
Perdemos os momentos
jamais vividos
Os sonhos adormecidos
O beijo suspenso
A juventude esquecida
O dia em que estaríamos juntos
Que choraríamos juntos
Que sorriríamos juntos
O presente que ganharíamos juntos
Ficamos esquecidos no passado
Você me perdeu Eu te perdi
E nós perdemos uma vida
Uma vida que jamais vivemos juntos
E o tempo tratou de amenizar as lembranças…
Alma de gata
Hoje acordei
E descobri que sou uma gata
Não quero dizer uma gata… um avião…
Mas uma gata em essência.
Talvez seja por isso que amo tanto os gatos
Minha alma é de gata!
Sempre me achei diferente das outras pessoas
Não por me achar importante…
Definitivamente não!
Mas… pela natureza de gostar da liberdade
Livre dos chamegos exagerados
Livre das convenções sociais
Das imposições
Do ter que ser certinha
Bonitinha
De bons modos e intelectual
Estou sempre caindo…
De lugares altos
De lugares baixos
A altura me apaixona
A aventura me excita
Saber que tenho amigos me faz forte
Mas sou assim… silenciosa, cuidadosa,
desconfiada, curiosa…
Adoro a noite!
É nela que consigo enxergar melhor o que vem através da luz…
A água fria cai sobre meu corpo como agulhas
Mas igualzinha aos gatos
Sou mal compreendida…
Por isso fui jogada do vigésimo segundo andar.
Caí de pé
Mas estou ferida.
Preciso me afastar, como os gatos fazem
E esperar…
Quem sabe a cura
Ou talvez a morte.
Coisa da vida
Eu só queria uma fórmula mágica
de voltar ao tempo,
sem lembrar tudo o que está acontecendo
e o que aconteceu comigo.
Queria poder escolher tudo de novo,
modificando o caminho,
tentando achar o instante momento em que me perdi.
Meus olhos olham para ele.
Uma química acontece em meu ser.
Algo que vai me azedando, me esquentando,
me ardendo.
Acho que nesse momento eu morro dez anos.
Não vejo mais volta no caminho que a vida me levou a trilhar.
As noites e os dias agora se diluem como o café solúvel no leite…
Mas sem açúcar.
Fico pensando se valeu a pena…
Sonhar com uma profissão
Explodir de ciúmes
Manter a calma
Projetar uma família
Rasgar aquela carta
Encontrar um amor
Viver um breve momento
Amar intensamente
Lamentar as horas perdidas
Enxugar as lágrimas
Abrir o coração
Pecar por omissão
Esperar o momento certo
Namorar o garoto errado
Abraçar um amigo
Vestir uma camisola vermelha
Ignorar o inimigo
Vomitar de porre
Esquecer o que passou
Reencontrar o grande amor.
Fim de festa
A vida é a duração de um baile
Muitas vidas dançando ao som dos sentimentos
Quando eu danço tento acertar os passos
Amo, odeio
Vibro, lamento
Há momentos em que me canso
Vidas movem-se livres pelo salão
Meu silêncio também é canção
Canção de ninar
– Quantas vidas dançaram juntas sem mim quando deixei de acordar!
E quando acordo, estou sozinha, a festa acabou mas ainda escuto um som
– Vou esperar o próximo baile.
Viajante
Por trás do Sol
Existe o silêncio da noite que cai
Entre o dia e a noite
Uma porta entreaberta
Passagem secreta
Que me divide entre a consciência e o sonho
Realidade é um vazio sem explicação
E os sonhos são horas que passam sem marcar o tempo: Completas, repletas, infinitas…
Vivo esse limite infinito
Corpo e mente anjo e demônio num flutuar delirante
Dividida entre o apego e o abandono
De mim mesma…
Querendo encontrar o caminho
Nesse mundo dos humanos.
Louco
Sou visível aos teus olhos
Mas tem algo em mim que não se vê
Vivo essa dualidade sem fim.
Vinte e duas são minhas essências
Quarenta, meus caminhos
Nada é tudo
Tudo é nada
Nessa minha caminhada.
Vou traçando meu destino
A terra e o céu dão as mãos
Numa brincadeira de roda
Em torno de mim
A vida roda.
Sou a bela e a fera
Subo e desço
– A razão e a loucura.
Minha alma em êxtase
Sou o que foi… o agora e o que virá
Sou o tempo fazendo a minha história.
Muitos filhos tive
Muitos perdi
E dentro de mim
Um jardim cresce.
Alma que segue seu curso
Flor de cinco pétalas
Cinco janelas
Cinco cores.
Sou a mentira da verdade.
E a verdade que se esconde por trás da mentira.
Você me conhece? Como?
Eu ainda não me conheço…
Sou apenas o louco.
O caminho
A vida é uma grande cidade
Com muitas ruas e avenidas
Cada caminho tem seu percurso
Ora iluminado, ora tomado pelas sombras.
Ruas e avenidas cheias de quebra-molas, de sinais…
Sinais verdes, sinais vermelhos…
Sinais que indicam atenção! Reflexão…
A cidade nos impõe Leis…
A vida nos impõe Leis…
Assim como é em cima é embaixo…
O respeito às Leis
É a segurança da caminhada.
O não às Leis
Opção de quem caminha nessa estrada…
Mas não basta sabermos desses sinais…
Ora! Se não temos consciência, que diferença faz?
A rua é de todos
Ao final existe apenas a parada
O descanso necessário
Em meio ao nada
E daí parto num parto
Para nova jornada.
Outro dia
Hoje acordei bem cedo
Mesmo acordando sempre tão cedo
Mas não foi para trabalhar, não foi para fazer o café
Hoje acordei bem cedo
E saí de fininho, sorrateira pelos cantinhos
Para ver a chegada do amanhecer
Quantas coisas meus olhos fotografaram!
Coisas que do mundo não percebia há muito tempo
A pureza do ar fresquinho, fresquinho…
Com o suave perfume da flor de laranjeira.
Hoje acordei cedinho
E não foi para ludibriar o ritmo alucinante da vida,
Mas para cantar, junto com os pássaros, a suave canção da alma
Hoje acordei bem cedinho,
Enquanto todos acalentavam o término de uma noite de sonhos
Acordei sentindo no ar a força que faz brotar a libido da vida,
os primeiros brotos da roseira
Hoje acordei cedinho para ouvir a natureza cantar,
esbanjar sem modéstia a sua beleza,
Como faz todos os dias ao colorir meus caminhos.
Hoje, como de sempre, acordei bem cedinho e saí bem de fininho
Para não acordar os grilos que, de cansados da boemia,
dormiam sobre as folhas frescas
Acariciadas pelo orvalho que se desfazia
E tirando os espinhos agarrei-me a vida
como se eu, natureza, amanhecesse como o dia.
Momentos e contradições
Eu não quero mais a nostalgia
Saudades causa dor
Quero o presente
Cheio de laços, fitas e corações
Cheio de surpresas e emoções
Não quero o lamento dos violões
Quero o grito das guitarras!
Teve um tempo
Em que as surpresas me davam medo
Hoje quero as surpresas!
O que vem de imediato… no repente.
O que me dá choque Me faz tremer…
Já não consigo pensar no quanto fui
Hoje penso o quanto sou
O quanto sou vida
Não o quanto de vida sou.
Se passado existe
Para mim está passado
Tão esticado no tempo
Que não me traz a emoção
Dos tobogãs gigantes.
Quero a emoção
O movimento
As batidas aceleradas do coração
E tudo isso porque estou viva
E em falar nisso, cadê o meu vinho?
Silêncio
Em silêncio
Enxerga-se a noite,
Descortina-se o tempo,
negaceia-se a vida.
Em silêncio escraviza-se a alma,
engole-se a seco,
Escapam-se os direitos.
Em silêncio gazeta-se os planos,
neca para os danos
e tudo entra pelo cano.
Em silêncio do amor esquecemos,
dos sonhos não ousamos
e nos estranhamos.
E, então, para que tanta ideologia
Se na hora de abrir o peito,
Intimidamos as mãos.
E aquele, que comigo gritou por nós,
Hoje, esconde o sorriso,
Omite-nos o olhar,
Escraviza-nos com o silêncio.
Na noite
Noite fria, nenhuma canção
Que vida vazia!
Ter você ou não
Uma decisão.
Um corpo na cama
A voz que sempre cala
Nunca chama, contida num desejo…
Desejo que dorme
Enquanto a noite chora na solidão.
Não existe o vento
Para soprar meu pecado em sua alma que passeia…
Sua alma que esquece que a minha te busca
Sem resposta, sem juízo
Sem perdão.
E que volta cansada
Calada… sem dizer nada
Sufocando aos poucos
Esse meu coração.
Século XX
São tantas bocas fechadas…
E quantos olhos cegos.
São tantas mãos paradas…
E quantas terras abandonadas.
É a fome rasgando o orgulho
dos corpos feridos, fedidos…
E quantas crianças mortas.
É o futuro sem futuro.
É o embrião do presente, abortado.
É a sede de ambição em mãos incompetentes,
Que esquecem o amor verdadeiro e destroem vidas por dinheiro.
É a velhice solitária na frieza de um chão,
É a casa roubada, é a desilusão.
E na promessa de vida, a sobrevivência atrevida
Faz do homem um ladrão.
Abstrato
Quero a novidade
O brilho que há tempos busco
Sair dessa prisão sem paredes
Sem portão de ferro
Mas que acorrenta a alma.
Nós estamos velhos
Cada vez mais velhos
Envelhecemos com os sonhos… Com os filhos…
Buscamos nossos quintais
Nossas portas cada vez mais fechadas
Que nem o tempo consegue abrir.
Desejamos a chave
Para abrir essas algemas
que apertam cruelmente, friamente nossas vidas
Será que se perdeu?
Será que os versos se perderam
Nos corredores dos pensamentos…
Fecho meus olhos
E deixo o perfume entrar.
Um troço
Há momentos que me sinto um troço
Outros que me sinto o máximo
Nem sempre opto pelo clássico
E no chá das cinco
Escondo o que na verdade eu sinto.
Não sou fútil
Também não mergulho em valores
Nem coleciono rancores
Mas é quando dou tudo de mim
Que me sinto um troço.
Não tenho braços que me abracem
Mas meus braços buscam sempre outros braços
E num momento percebo a vida que foge
E num momento me sinto assim
Amando vampiros sedutores
Deixando de olhar para mim
Meu olhar insiste em procurar por outros
Insiste pelo perfeito, pelo justo
Porque é de direito
E aí… Percebo que ser sozinha não é o meu defeito
Não gosto de cobranças
Basta de me cobrar!
O que preciso no momento
É aprender a me amar.
Criança
“Que doce mundo”
Sente o perfume da flor…
É um contraste errante
Esses filhos do amor.
É difícil falar de fantasias
A fome é tão real
É tão difícil falar de amor
Quando o frio congela o coração
E na mão abriga-se um punhal.
Criança que rola no capim
Acredita em fadas, andando no jardim
São as mesmas crianças
Que andam nas ruas, sem casa, sem lar
Sem pipa, sem boneca
Sem bola para jogar.
E em cada gota de orvalho
Que a noite rouba do luar
Existe uma fada madrinha
Que vem te abençoar
Criança pobre, criança rica
Criança que brinca
Com o que tem nas mãos
Com tranças e fitas
Ou de pé no chão
Criança é bonita de coração
Fique certa, criança
Que a sua esperança
É a minha, meu bem
Você tão pequena
Não sabe que o futuro
É criança também.
A chuva
Lá fora se prepara um grande temporal
Os pássaros correm a procura de um abrigo
E eu, no meu quarto, pego no livro esperando o tempo passar…
Escuto a chuva que vem lá de fora
E um barulho ensurdecedor me faz estremecer
Olho pela janela…
Vejo a chuva que ensaia seus primeiros pingos
A chuva não cai direto no chão,
Antes dança, bailando ao vento.
Tem gente que sente medo da chuva
Eu tenho medo da força do vento
que arrasta tudo por onde passa
e como um palhaço e sem graça faz um picadeiro no meu coração
Enquanto escuto a chuva que se arrasta,
Do outro lado da rua, vejo rostinhos de crianças colados na vidraça
E como se espantam ao ver as árvores bem agachadas
por causa do sopro do vento na imensidão do tempo
A chuva estia de mansinho
Já escuto os pingos fraquinhos em alguma coisa no chão
O céu vai ficando limpinho
Tão azulzinho…
Que o sol de alegria desembesta a esquentar o dia
enquanto os pássaros também ensaiam
Uma nova canção.
Encruzilhada
Paro diante de uma encruzilhada
Estou presa à cruz do Cristo
Caminhos sem setas Por onde ir? Não sei…
E assim, vou ficando por aqui
Na chuva
Na fome
Virando pó
Quantas vezes minhas lágrimas borrarão o asfalto?
Aqui já sentei olhando as estrelas
Sonhos que deram vida a minha vida
O que ser, quando não nos sentimos mais nada?
A coroa, que me faz rainha, rasga meu eu com seus espinhos…
Que Cristo sou? Que Madalena?
As baratas que andam pela minha alma, agora saem pelas narinas…
pelos ouvidos… Pela boca.
O terror já não me espanta.
Sou eu o próprio espanto.
O que poderá, Senhor das montanhas, ser pior que o momento?
Esse momento que se tornou eterno…
Quero acreditar no brilho do sol e ter a certeza
Que amanhã não será somente mais um dia…
Meu Inverno
Janela… Um instante de frio
O lado de fora é um mundo
Montanhas, árvores próximas e o sol…
Um mundo de novidades se revela aos meus olhos.
Ontem não vi esse mundo aqui. Por quê?
Ontem não escutei os pássaros…
E se minha vida tivesse acabado ontem?
Olho minhas mãos, estão brancas e frias
Árvores próximas, árvores distantes
Meu coração está perto
O calor evapora os pingos de orvalho
Meu coração é o orvalho que se solta nesta manha radiante.
A noite está dentro de mim e sai a cada entardecer,
depois retorna, guardando-se na mansão da minha alma.
Sou agora uma linda paisagem de inverno
Com casacos macios, cachecóis, gorros e chocolates quentes
Sim… Chocolates quentes e amargos
Esse é o sabor da minha vida.
Sou os grandes pinheiros cheios de gelo.
Que estão embelezando os outros olhos
E sobrevivem até a chegada do verão.
Equação
Não consigo entender
Por que a soma dos meus valores
Nunca dá uma conta exata.
Que matemática é essa
Que me mata!
Que mundo torto é esse
Que existe fora de mim!
Vivo no negativo
Nego minhas emoções
Mas não sou sempre assim.
De noite em minha cama
Busco a resposta dessa equação
O que sempre soma
É a variável chamada solidão
Tudo se resume numa entediada solução
Pois termino devendo ao mundo
O que restou no meu coração
E a esse resto
Nada posso acrescentar
São resíduos de minha vida
Que não vale a pena contar
Vivi
Ontem senti, num segundo, teu perfume Senti, num único segundo, tua presença e chorei… Talvez saudades Talvez não… Uma vontade imensa abriu uma flor em meu peito perfumando minha alma… Uma vontade de que você Ainda estivesse aqui. Vivi, vivi Por um instante vivi… Por um instante nasci… Por um breve instante… morri. (Essa poesia fiz para minha filha Viviane)